Como usar as novas
tecnologias digitais e zelar pela nossa privacidade, enquanto o comportamento
online caminha na direção oposta: o da super exposição?
Queremos estar em todos os
lugares. Cada vez mais conectados e durante mais tempo, lutamos para nos manter
tecnologicamente atualizados, queremos ser ubíquos. Consumimos informação em
excesso, invertemos o vetor do modelo tradicional de produção e passamos também
a gerar conteúdos. Com inúmeros perfis pessoais em redes sociais e vários
endereços de e-mail, super-povoamos o espaço da web e nos tornamos obesos
digitais. Paradoxalmente, queremos nos preservar, mas fugimos do anonimato, nos
expondo permanentemente.
Gilles Lipovetsky, autor e sociólogo
francês, cunhou o termo “hipermodernidade” para representar a nossa atual
sociedade. Com a existência marcada
essencialmente pela convivência de antagonismos, para o sociólogo, nós vivemos
entre a “cultura do excesso” e o “elogio da moderação”. O mundo, segundo ele,
está repleto de paradoxos. Quanto mais tecnologia e inovação ao nosso dispor,
menos tempo disponível para nós. Consumimos tudo em excesso, cercados pela
forte sensação de efemeridade. Somos intensos e individualistas.
Seguindo a linha de Lipovetsky, o
autor americano John Naisbitt, sugere outro paradoxo para interpretar a
sociedade contemporânea: “High Tech, High
Touch”, segundo o qual, nos esvaziamos de sentido na medida em que a
tecnologia se apossa cada vez mais das nossas vidas. É nesse ponto, segundo
Naisbitt, que o contato pessoal (high
touch) é fundamental para resgatar a essência do ser humano.
A internet é a mais celebrada
tecnologia do tipo Pull, que se
caracteriza justamente por atender a nossa crescente necessidade, como usuários,
de interferirmos de forma decisiva na maneira como consumimos conteúdos. Esse é
o aspecto fundamental de diferenciação destas com as tecnologias do tipo Push, representadas pela televisão, que
nos “empurra” os seus conteúdos sem que tenhamos efetivamente como interferir
na programação a qual somos submetidos.
A web 2.0 simboliza a mudança de
ponto de vista de como nós usuários concebemos a web e a utilizamos como
plataforma de interação e colaboração, evidenciada especialmente através da
proliferação de wikis, aplicativos e das
redes sociais. Como tecnologia Pull, nos coloca no centro de um novo
modelo de produção, modificando parâmetros comportamentais, políticos,
econômicos e sociais. Será que estamos
preparados para assumir a responsabilidade e o ônus dessa inversão?
Vetores representativos desse
novo paradigma, grandes empresas nativas da web, como o Google e o Facebook,
iniciaram uma corrida ferrenha pela busca da relevância. Como atender às
necessidades desse novo consumidor e ofertar serviços cada vez mais
personalizados, dirigidos, relevantes? O
volume de dados sobre nós acumulados por essas empresas são a chave para a tão
festejada relevância. Google e Facebook são empresas de dados, e cada
informação que cedemos a elas ajuda a delinearem o nosso perfil, os nossos
gostos e hábitos – são o custo que pagamos por usar os serviços prestados por
elas.
Estamos falando do mercado do
comportamento, no qual os grandes players
da internet transformaram indicadores de clique em informações valiosas dos
usuários e lucram com isso. O core
business do Google e do Facebook é a publicidade online, onde a
personalização tornou-se a estratégia para ganharem a preferência dos usuários
e dos anunciantes. Como num ciclo
vicioso, quanto maior o volume de dados que obtiverem dos usuários, maior a
chance de nos conhecerem e de ofertarem serviços mais direcionados e eficazes.
Os negócios baseados na web e nós
mesmos estamos em pleno processo de readaptação frente à velocidade frenética
na qual as transformações se processam no espaço virtual. É um terreno muito
pouco regulamentado, justamente pela dificuldade de percebemos as mudanças
quando estamos inseridos no processo. Saudamos as possibilidades proporcionadas
pelo advento ininterrupto de novas tecnologias e vivemos intensamente a era da
obsolescência programada – na qual as tecnologias nascem e rapidamente
tornam-se obsoletas.
Não culpemos o veículo, devemos
assumir a responsabilidade pelas nossas escolhas na internet. Assim como num
acidente proporcionado pela colisão de um automóvel em alta velocidade: quem
seria o culpado, a tecnologia que possibilita atingir velocidades antes
inimagináveis ou o comportamento do condutor que imprime o ritmo e ultrapassa o
limite do bom senso? Estamos apenas aprendendo a lidar com esses paradoxos,
redefinindo conceitos fortemente enraizados durante muito tempo. A privacidade
online é apenas um deles.
Utilizei a ferramenta de perguntas do Linkedin para abordar
amigos e profissionais da área sobre o tema e recebi pontos de vista realmente
bastante interessantes e enriquecedores. Compartilho o link para algumas dessas
respostas que obtive através do Linkedin: Clique AQUI!
Esse tema foi apresentado por mim na XXXVII Semana Científica
e Cultural do IBMR Laureate Internacional Universities do Rio de Janeiro, no
dia 25/05/12. Os slides da apresentação estão disponíveis no Slideshare: #Dilema Doispontozero.
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podemos fazer uso dessas tecnologias e ainda assim nos preservar, mesmo que o comportamento
online caminhe na direção oposta da super exposição?
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