Apresentação

Faz tempo em que a base para se estabelecer relações comerciais reduzia-se à troca de mercadorias essenciais: um peixe por um punhado de sal. Hoje, a experiência comercial ampara-se em trocas muito mais complexas, com papéis e procedimentos rigorosamente definidos. Enquanto o mercado evolui, algumas empresas insistem em permanecerem na época do escambo. Estabelecer troca de informação e conhecimento entre consumidores e o mercado é a finalidade desse blog. A Comunicação e a Palavra - munidas da força e alcance da Internet - como elemento de transformação e positivação das práticas comerciais.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Dilema Doispontozero: Privacidade Versus Super Exposição Online



Como usar as novas tecnologias digitais e zelar pela nossa privacidade, enquanto o comportamento online caminha na direção oposta: o da super exposição?

Queremos estar em todos os lugares. Cada vez mais conectados e durante mais tempo, lutamos para nos manter tecnologicamente atualizados, queremos ser ubíquos. Consumimos informação em excesso, invertemos o vetor do modelo tradicional de produção e passamos também a gerar conteúdos. Com inúmeros perfis pessoais em redes sociais e vários endereços de e-mail, super-povoamos o espaço da web e nos tornamos obesos digitais. Paradoxalmente, queremos nos preservar, mas fugimos do anonimato, nos expondo permanentemente.

Gilles Lipovetsky, autor e sociólogo francês, cunhou o termo “hipermodernidade” para representar a nossa atual sociedade.  Com a existência marcada essencialmente pela convivência de antagonismos, para o sociólogo, nós vivemos entre a “cultura do excesso” e o “elogio da moderação”. O mundo, segundo ele, está repleto de paradoxos. Quanto mais tecnologia e inovação ao nosso dispor, menos tempo disponível para nós. Consumimos tudo em excesso, cercados pela forte sensação de efemeridade. Somos intensos e individualistas.

Seguindo a linha de Lipovetsky, o autor americano John Naisbitt, sugere outro paradoxo para interpretar a sociedade contemporânea: “High Tech, High Touch”, segundo o qual, nos esvaziamos de sentido na medida em que a tecnologia se apossa cada vez mais das nossas vidas. É nesse ponto, segundo Naisbitt, que o contato pessoal (high touch) é fundamental para resgatar a essência do ser humano.

A internet é a mais celebrada tecnologia do tipo Pull, que se caracteriza justamente por atender a nossa crescente necessidade, como usuários, de interferirmos de forma decisiva na maneira como consumimos conteúdos. Esse é o aspecto fundamental de diferenciação destas com as tecnologias do tipo Push, representadas pela televisão, que nos “empurra” os seus conteúdos sem que tenhamos efetivamente como interferir na programação a qual somos submetidos.

A web 2.0 simboliza a mudança de ponto de vista de como nós usuários concebemos a web e a utilizamos como plataforma de interação e colaboração, evidenciada especialmente através da proliferação de wikis, aplicativos e das redes sociais.  Como tecnologia Pull, nos coloca no centro de um novo modelo de produção, modificando parâmetros comportamentais, políticos, econômicos e sociais.  Será que estamos preparados para assumir a responsabilidade e o ônus dessa inversão?

Vetores representativos desse novo paradigma, grandes empresas nativas da web, como o Google e o Facebook, iniciaram uma corrida ferrenha pela busca da relevância. Como atender às necessidades desse novo consumidor e ofertar serviços cada vez mais personalizados, dirigidos, relevantes?  O volume de dados sobre nós acumulados por essas empresas são a chave para a tão festejada relevância. Google e Facebook são empresas de dados, e cada informação que cedemos a elas ajuda a delinearem o nosso perfil, os nossos gostos e hábitos – são o custo que pagamos por usar os serviços prestados por elas.

Estamos falando do mercado do comportamento, no qual os grandes players da internet transformaram indicadores de clique em informações valiosas dos usuários e lucram com isso. O core business do Google e do Facebook é a publicidade online, onde a personalização tornou-se a estratégia para ganharem a preferência dos usuários e dos anunciantes.  Como num ciclo vicioso, quanto maior o volume de dados que obtiverem dos usuários, maior a chance de nos conhecerem e de ofertarem serviços mais direcionados e eficazes.

Os negócios baseados na web e nós mesmos estamos em pleno processo de readaptação frente à velocidade frenética na qual as transformações se processam no espaço virtual. É um terreno muito pouco regulamentado, justamente pela dificuldade de percebemos as mudanças quando estamos inseridos no processo. Saudamos as possibilidades proporcionadas pelo advento ininterrupto de novas tecnologias e vivemos intensamente a era da obsolescência programada – na qual as tecnologias nascem e rapidamente tornam-se obsoletas.

Não culpemos o veículo, devemos assumir a responsabilidade pelas nossas escolhas na internet. Assim como num acidente proporcionado pela colisão de um automóvel em alta velocidade: quem seria o culpado, a tecnologia que possibilita atingir velocidades antes inimagináveis ou o comportamento do condutor que imprime o ritmo e ultrapassa o limite do bom senso? Estamos apenas aprendendo a lidar com esses paradoxos, redefinindo conceitos fortemente enraizados durante muito tempo. A privacidade online é apenas um deles.

Utilizei a ferramenta de perguntas do Linkedin para abordar amigos e profissionais da área sobre o tema e recebi pontos de vista realmente bastante interessantes e enriquecedores. Compartilho o link para algumas dessas respostas que obtive através do Linkedin: Clique AQUI!

Esse tema foi apresentado por mim na XXXVII Semana Científica e Cultural do IBMR Laureate Internacional Universities do Rio de Janeiro, no dia 25/05/12. Os slides da apresentação estão disponíveis no Slideshare:  #Dilema Doispontozero.

Compartilhe conosco também a sua opinião nos comentários abaixo.  Como podemos fazer uso dessas tecnologias e ainda assim nos preservar, mesmo que o comportamento online caminhe na direção oposta da super exposição?






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