Alguém da minha geração deve lembrar do robô Arthur e seus movimentos limitados, do jogo Gênius com luzes piscantes e botões sonoros ou do Playmobil e seus bonecos, forte-apaches e cidades de faroeste. São brinquedos que me provocam profunda nostalgia e me fazem lembrar de como eu e meus amigos éramos fascinados por aquele mundo lúdico. Por trás dos apelos, os comerciais de TV atingiam o nosso inconsciente imaginário em cheio, alimentavam nossas fantasias de criança e o impulso pela compra - desenvolvia e cultivava o nosso lado consumista. Atualmente, a discussão sobre o impacto do Marketing nos hábitos de consumo de crianças e jovens tem sido tema de muitos debates. Mais organizado em países como os EUA e Canadá, o movimento chama a atenção dos pais e da sociedade para um fato alarmante: as conseqüências do Marketing infanto-juvenil na formação educacional dos seus filhos e futuros consumidores.
Talvez o Ronald Mc Donald seja o símbolo que traduz com mais clareza a força do Marketing direcionado para crianças. O palhaço descolado, amigo divertido é personagem de um mundo encantado que seduz e conquista as crianças. A figura circense da rede de Fast Food mais famosa do mundo representa outro aspecto preocupante como conseqüência desse tipo de abordagem: o crescimento do volume de problemas de saúde pública gerados por hábitos não-saudáveis de consumo. Nesse caso específico, a obesidade infantil. Consumo e dependência precoce de tabaco e bebida alcoólica, comportamento violento e precocidade sexual incrementam a lista dos problemas em debate.
O exemplo da Kellogg, outra multinacional norte-americana – que firmou acordo recentemente modificando a forma como a empresa irá articular o marketing de seus produtos para crianças – atesta a influência que a indústria alimentícia exerce na formação dos hábitos alimentares através das suas ações com foco nos consumidores mirins. O acordo foi resultado da pressão imposta por famílias norte-americanas. Espera-se que o desenrolar desses acontecimentos possa servir de exemplo, fortalecendo o processo de conscientização e o desenvolvimento do pensamento crítico a cerca do tema em nosso continente.
No Brasil, anunciantes e agências de publicidade praticam o Marketing voltado para crianças isento de uma regulamentação mais rigorosa. Eles mesmos ditam as regras. Por outro lado, percebe-se o aparecimento, ainda que discreto, de movimentos que procuram se engajar no tema, provocar a discussão e despertar a atenção da opinião pública. Incipientes, porém com personalidade e firmeza de princípios, as iniciativas no país procuram enquadrar o Marketing e restringir a sua ação sobre o público infanto-juvenil.
Enquanto isso, como os Troianos, continuamos recebendo o “presente de grego” que esse tipo de Marketing reserva para nós. Barbies, Hello Kitty e Power Rangers são exemplos contemporâneos da estratégia mirabolante que os gregos bolaram para atingir os seus objetivos de guerra. Como no eqüino de madeira, guardam surpresas indesejáveis no seu conteúdo. E por falar em Cavalo de Tróia, vou logo finalizando esse post para não correr o risco de fazer a analogia com o destrutivo vírus homônimo que circula na Internet.
Um comentário:
Não podemos perder tempo em educar os meios de comunicação, que estão a um controle remoto de distância, que deseducam nossos filhos de forma intencionalmente planejada, pesquisada e repleta de teoria (dias desses, vi uma matéria que afirmava tal estudo por parte de PhD's e fiquei pasma!)!!!
Que a ciência do marketing também seja usada a favor de um mundo mentalmente saudável!
Patricia Viana Cherchi
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